O implacável

Baltazar Garzón condenado a 11 anos sem poder exercer o seu ofício.

Falamos do homem que ficou conhecido por ser implacável. Baltazar Garzón é uma lenda da justiça. Um Hall-of-famer do cumprimento da lei, da luta contra o genocídio, da defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos de meio mundo, da democracia e da defesa do Estado de Direito.

Baltazar Garzón é aquele juiz que executa a sua profissão com um humanismo tremendo. Baltazar Garzón é aquele homem que tem os colhões no sítio, perdoem-me a expressão. Um super-homem. O homem que todos nós gostaríamos de ser.

Baltazar Garzón é o juiz que:

1. Por ter dado ordem de prisão internacional ao antigo ditador Chileno Augusto Pinochet por tortura a cidadãos espanhóis aquando do seu regime dictatorial no Chile e de ter obrigado o antigo ditador a sentar o seu rabo em tribunal para responder às acusações.

2. Por ter ousado investigar Henry Kissinger pela sua relação na Operação Condor (operação criada por políticos e militares das ditaduras Sul-Americanas da década de 70 para eliminar possíveis opositores de esquerda nesses países num cenário internacional) enquanto secretário de estado dos EUA.

3. Por ter desafiado os governos argentinos dos anos 90 a investigar o genocídio cometido contra a sua população na era das ditaduras de direita.

4. Por ter ousado querer processar Sílvio Berlusconi.

5. Por ter levado um avante sobre a suposta utilização de off-shores ilegais do BBVA em Espanha, esquema que o conglomerado usava para lavagem de dinheiro em benefício dos seus accionistas maioritários.

6. Por ter desafiado o governo norte-americano a admitir publicamente que detinha em Guantanamo civis inocentes que não tinham quaisquer ligações com os grupos terroristas fundamentalistas islâmicos e que fazia detenções de terroristas de forma ilegal.

7. Por ter denúnciado torturas na referida base a prisioneiros, ou seja, claras violações à Convenção de Genébra.

8. Por ter desafiado a ETA e ter suspenso as actividades do Batasuna durante 3 anos, respectivos jornais e sedes que serviam como ponto de encontro para realização de reuniões da operação. E por ter desmantelado o GAL (Grupo Anti-terroristas de Libertação) que tinha como objectivo principal servir de sombra às actividades da ETA e assim gerar mais violência no País Basco e em Navarra.

9. Por ter desmantelado nos anos 80 diversas máfias ligadas ao narcotráfico que operavam em território espanhol: a galega, a italiana e a turca.

10. Por ter desmantelado uma rede de cidadãos que em Málaga se dedicava à contrafacção de moeda.

11. Por ter desmantelado dezenas de cartéis de droga que operavam regionalmente.

Estes são alguns dos mega-processos e dossiers em que Garzón participou.

Garzón não exagerou no caso “Gurtel”. Apenas se limitou a fazer o que a Procuradoria Geral da República faz por exemplo em Portugal. Limitou-se a ousar querer saber a verdade num caso de trapaça de alguns actores da elite espanhola. Nada de mais. A presença de Garzón no caso “Gurtel” tornou-se incómoda. Não tenho as menores dúvidas que se fosse um juiz de província a ordenar as mesmas escutas, seguramente não teria uma pena tão pesada. 11 anos é o fim de Garzón como juiz. A Espanha, como nosso vizinho parece adoptar os mesmos modelos da justiça portuguesa e até me faz lembrar quando o juiz Rui Teixeira foi afastado do Processo Casa Pia – quem esmiuça demasiado a elite, tem que ser afastado porque o podre não pode vir ao de cima. A Espanha não quis, à semelhança de Portugal, que a verdade venha ao de cima. Engraçado é, que o escândalo “Gurtel” não é o único escândalo do género na Península Ibérica. Em Portugal, se bem se lembram, há umas semanas atrás apontavam-se que exista uma rede de corrupção que envolvia as maiores sociedades de advogados do país. Paula Teixeira da Cruz, à boa moda portuguesa desvalorizou o assunto e virou o “cú à seringa” – nada de especial tendo em conta a nossa justiça.

Agora, Espanha desiludiu-me.

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