Parabens à Holanda!

O raio do polvo não falhou e a Holanda B ganhou mesmo o mundial.

Parabéns à Holanda e aqueles que durante décadas construiram e evoluiram o futebol Holandês. Todos esses hoje provaram o seu veneno. O feitiço virou-se contra o feiticeiro.

A Holanda B, perdão, a Espanha venceu o Mundial. Venceu-o graças a uma filosofia de jogo que foi imposta em Espanha há mais de duas décadas no Barcelona pelos treinadores Holandeses que por lá passaram. Nomes como Rinus Michels, Johann Cruyjff ou Louis Van Gaal. Esta geração Espanhola (grande parte dela formada de acordo com os princípios da era Holandesa) assimilou bem o modelo Holandês na formação e através dele (mais tarde) logrou vencer um Europeu em 2008 e agora um Mundial.

Foi uma final como todas as outras. As equipas entraram cautelosas, tentando não conceder espaços aos adversários que pudessem ser letais. A primeira parte foi um grande exemplo disso. Fazendo excepção ao perigo inicial da Espanha num ou dois lances, as equipas foram para o intervalo sem grandes ocasiões de golo.
Na 2ª parte, o jogo abriu mais e tanto a Holanda como a Espanha poderiam ter decidido o jogo nos segundos 45 minutos.
O exemplo disso foram as duas perdidas que teve Arjen Robben na cara de Casillas. Duas perdidas das quais, o jogador do Bayern, decerto nunca esquecerá.

À semelhança da final de 2006, o jogo foi para prolongamento.
Howard Webb expulsou com justiça o central John Heitinga. E a Espanha voltou a atacar no momento da doença da defensiva Holandesa. Aos 116″, Andrés Iniesta haveria de dar o primeiro título mundial à Holanda B, perdão, à Espanha!

Na minha opinião não foi um titulo merecido. Os Espanhóis jogam bem, circulam bem a bola, tem individualidades que podem criar resolver jogos mas não jogaram o suficiente para serem consagrados como campeões mundiais. Os Holandeses, os Alemães e até os Uruguaios mostraram melhor futebol. Os Espanhóis limitaram-se a defender bem, a marcar um golo por jogo e a circular a bola no meio campo em vantagem. Não foram espectaculares.
Os jogadores Espanhóis também não são primor de fair-play. Barafustam dezenas de vezes com os árbitros durante as partidas de modo a influenciar as suas decisões, atiram-se para o chão por tudo e por nada simulando falta após falta e são peritos na simulação de agressões. Que o diga Joan Capdevilla.

Acabou-se este mundial.
Como todos os mundiais, este fica marcado por algumas surpresas agradáveis e por alguns flops. Houve jogadores que se destacaram num mundial onde as duas maiores estrelas do futebol mundial não tiveram uma prestação por aí além.

Os + e os – do Mundial

Organização:

Sinal +:
Excelente organização por parte dos Sul-Africanos. Durante este mundial não houve grandes casos de violência entre adeptos. A polícia Sul-Africana pouco foi obrigada a intervir.
Depois dos pequenos assaltos feitos a jornalistas estrangeiros antes do início da competição, as coisas foram acalmando com o início da competição.

Durante este mês, no plano interno Sul-Africano houve uma ligeira trégua nas tensões raciais entre brancos e negros. Depois de muitas ameaças proferidas pelos líderes da extrema-direita Sul-Africana e do partido ANC, estes acabaram por gerar uma trégua durante o mundial. Será que estas duas facções continuarão em paz nos próximos tempos?

Sinal -:

As vuvuzelas, aquele instrumento que não serve para mais nada do que para o lucro de uns e a dor de ouvidos de outros. As vuvuzelas tiraram o brilho do espectáculo. Não se ouviram os canticos e os gritos emotivos dos adeptos das selecções, aquilo que muitas vezes dá brilho ao espectáculo.

Selecções:

Sinal +:

– Uruguai: Vinham catalogados para este mundial como uma selecção capaz de ir apenas aos oitavos-de-final. Poucos acreditariam que os Uruguaios poderiam chegar onde chegaram. Melhor que isso, mostraram um excelente futebol e foram aguerridos até ao último minuto da competição. Se Diego Forlán pode ter-se despedido aqui da fase final de um mundial, o seu sucessor já está encontrado há muito: chama-se Luis Suarez.

– Gana: Toda a gente apontava a Costa do Marfim como a primeira equipa Africana com grandes chances de ir a uma meia final de um mundial. As previsões estavam erradas pois os Costa-Marfinenses haveriam de cair logo na fase de grupos aos pés de Portugal e do Brasil. Foi o Gana quem levou o nome do continente Africano mais alto. Foi pena não terem chegado às meias finais.
A selecção Ganesa era das selecções mais jovens em prova, senão a mais jovem. Formada principalmente a partir dos campeões mundiais de sub-20, uma geração que poderá dar cartas no futuro tanto na CAN (onde o Gana foi 2º este ano) como nos próximos 2 mundiais. Tiveram o azar de serem eliminados nos quartos-de-final por outra equipa que também mereceu as meias: o Uruguai.

– Nova Zelândia: Foram eliminados logo na fase de grupos mas deram luta. Prevê-se que o futebol possa ter um ligeiro crescimento no país após este mundial. Aquele empate com a Itália foi um momento histórico no futebol Neo-Zelandês sendo que jamais se irá repetir nos próximos anos.

– Holanda: À partida para este mundial, a Holanda era tão favorita à vitória como Portugal. Mas à excepção dos “navegadores toca-vuvuzelas”, os Holandeses tinham mostrado provas nas competições por clubes na Europa. Sneijder e Robben tinham sido elementos fulcrais no sucesso das suas equipas e chegavam à África do Sul em grande forma.
Depois uma fase de grupos em que a Holanda venceu só com vitórias, os Holandeses tiveram o seu ponto alto nos quartos-de-final onde eliminaram o arrogante Brasil de Dunga que no primeiro teste a sério neste mundial claudicou e foi para casa mais cedo que o previsto.

– Paraguai: Toda a gente pensava que este Paraguai iria jogar de forma super-defensiva a lembrar os tempos do Paraguai de Chilavert e Carlos Gamarra. Apresentando uma selecção “com cabeça, tronco e membros”, os Paraguaios deram primazia a um verdadeiro sentido de jogo equilibrado tanto na defesa como no ataque, caíndo apenas nos quartos-de-final perante uma Espanha que foi mais feliz nesse jogo.

Sinal -:

França: Sem palavras. Foi uma prestação ridícula dos Franceses num campeonato do mundo onde nem deveriam ter participado.
Domenech entrou num mundial com uma péssima formação de convocatória e saiu da África do Sul completamente queimado pela crítica internacional e pronto para iniciar uma nova etapa da sua carreira como treinador de futebol que é a reforma.

Nigéria: Os jogadores Nigerianos fizeram 3 partidas no mundial sem brilho, como se estivessem na África do Sul completamente contrariados. Foram eliminados no Grupo B e quando chegaram a casa receberam uma surpresa: o governo Nigeriano não vai permitir que possam competir internacionalmente nos próximos 2 anos para que se possa iniciar um período de reflexão no futebol da Nigéria. E a FIFA atenta (como esteve atenta ao caso do governo Togolês na CAN, como não está atenta à interferência do governo Francês no futebol Francês) pode sancionar os Nigerianos.

Sérvia: Era um dos meus outsiders para este mundial. Esperava mais dos Sérvios que até tinham ganho o grupo de qualificação onde estava a França. Tem excelentes valores, conseguem construir uma excelente selecção mas quando é a doer, está mais que visto, falham.

Itália: A campeã do mundo desiludiu. Uma equipa demasiado velha e uma renovação que parece que anda a ser feita “às três pancadas” dentro da Selecção. O novo seleccionador Cesare Prandelli vai ter muito trabalho pela frente nos próximos 2 anos.

Costa do Marfim: Colocaram a barra nas meias finais, e os meninos, num grupo difícil não conseguiram aguentar a pressão e estamparam-se!

Brasil: “Todo o mundo tenta mas o Brasil é penta” – E só não foi hexa porque realmente não tinha equipa para o ser. Os Brasileiros já se preparam a todo o gás para 2014, mantendo sempre a postura arrogante que na final do Maracanã só o Brasil poderá sair pela Taça. Veremos daqui a 4 anos.

Nem vou falar da selecção Portuguesa para que não me acusem de estar sempre a bater no Carlos Queiroz.

Deixo também aqui três onze: o meu onze do torneio, o onze das revelações e onze dos flops:

Onze do Torneio: Maarten Stekenlenburg (Hol); Phillip Lahm (Ale), Gerard Piqué (Esp), Lúcio (Bra) e Giovanni Van Bronckhorst (Hol); Xavi (Esp), Mesut Ozil (Ale) e Wesley Sneijder (Hol); Diego Forlán (Uru), Thomas Muller (Ale) e David Villa (Esp)

Onze Revelação: Eduardo (Por); Gregory Van Der Wiel (Hol), Arne Friederich (Ale), Maurício Victorino (Uru) e Fábio Coentrão (Por); Sami Khédira (Ale), Jorge Valdívia (Chi) e Raúl Meireles (Por); Luis Suarez (Uru) Edinson Cavani (Uru) e Robert Vittek (Eslováquia)

Onze flop: Robert Green (Ing); Brett Emerton (Aus) John Terry (Ing) Juan (Bra) e Taiwo (Nigéria); Frank Lampard (Ing) Andrea Pirlo (Itá) e Deco (Por); Cristiano Ronaldo (Por) Frank Ribéry (Fra) e Wayne Rooney (Ing)

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2 thoughts on “Parabens à Holanda!

  1. Pedro Paredes diz:

    Concordo com a generalidade do que aqui foi escrito. Apenas não partilho da tua leitura quando referes que o Gana foi uma surpresa e a Costa do Marfim uma desilusão. Só foi assim para quem não acompanha regularmente futebol africano (nomeadamente a CAN e os mundiais de selecções jovens). O Gana sempre foi uma certeza para este mundial. Já a Costa do Marfim.. enfim.. poucos meses antes do mundial ainda nem sequer tinha seleccionador e falava-se em divisões no seio da equipa. Têm de facto bons jogadores, mas não têm uma equipa… nem fora, nem dentro das quatro linhas

    Não concordo igualmente quando dizes que a Holanda “era tão favorita à vitória como Portugal.” Não foi a ti mas – e tenho quem o comprove – antes deste mundial disse que a competição seria ganha pela Holanda ou pela Espanha. Foram as selecções que melhor futebol praticaram durante a qualificação – creio que ambas venceram todos os jogos – além de que a Holanda tinha o “cérebro” da equipa com a qual o Inter (não gosto de dizer “o Mourinho”) foi campeão europeu: Sneijder. Já no que toca a Portugal, creio que ainda temos bem presentes na memória as dificuldades que tivemos para nos apurar..

    E já que tou numa de discordar, aproveito para substituir o Xavi pelo Iniesta (Don Andrés) no teu “onze do mundial”. É impossível o homem que decide o mundial não constar do “onze ideal” da competição..

    Abraço!

  2. João Branco diz:

    Pedro, antes de mais, obrigado pelo comentário! Fazendo um elogio rasgado, é bom que pessoas como tu venham aqui comentar.

    Acredito nas tuas palavras e tenho que dizer que encaixo o teu comentário. A Holanda para mim estava na 2ª linha de favoritos. A 1ª linha era o Brasil, a Alemanha e a Itália. A 2ª era a Holanda, a Argentina e a Espanha.
    Sim, a Holanda e a Espanha venceram todos os jogos da qualificação. No caso dos Holandeses, acabaram por vencer apenas 8 jogos porque calharam num grupo de 5. Não tiveram vida difícil com a Escócia, Macedónia, Noruega e Islândia.

    Para te justificar, decidi escolher o Xavi pela regularidade. Eu sei que há essa regra cliché do homem que decide o mundial aparecer no onze do torneio. Mas não posso meter o Iniesta na troca com nenhum dos três. O Xavi pela regularidade, o Ozil não poderia ir para o onze revelação porque ele já é uma grande estrela do campeonato alemão há 2 anos e é pura e simplesmente mágico e obviamente, o melhor médio do ano que é o Sneijder.

    Quanto à questão do Gana e da Costa do Marfim. Apenas constatei que era a Costa do Marfim a selecção Africana que os experts previam que fosse a primeira semi-finalista Africana.
    Contudo, o Gana inverteu bem os papeis e fez uma excelente campanha. Melhor que isso, já tem bases lançadas para melhores campanhas no futuro. Até porque um dos mais velhos (e influente) que é o Gyan já tem um substituto natural que é o puto do Milan, o Adiyiah, que foi considerado o melhor jogador do campeonato mundial de sub-20.
    A Costa do Marfim, não se soube organizar e obviamente já era tarde para o Eriksson ensinar-lhes algo que falta a todas as equipas africanas: rigor táctico.

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